30 novembro 2006

If you try walking in my shoes...

O título deste post é parte do refrão de uma música dos Depeche Mode. Deparo-me frequentemente com demonstrações de crueldade que não consigo entender muito bem. Pessoas que se gostam e se respeitam e que, mesmo assim, não conseguem perceber que ser amigo nem sempre é «contar tudo um ao outro», porque a nossa felicidade, descrita ao pormenor, pode ser ofensiva ou penosa para alguém menos bem. Não que o/a amigo/a nos queira mal, mas a felicidade alheia é tanto mais apreciada quanto a nossa própria felicidade está assegurada. Um bocadinho de moderação não fica mal a ninguém... e, em caso de dúvida, basta colocarmo-nos na pele do outro. Se estivéssemos mal por algum motivo, quereríamos mesmo saber todos os pormenores da última conquista de alguém que nos é próximo, ou basta-nos saber que essa pessoa está bem e satisfeita?

28 novembro 2006

Menino do bairro negro

Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar

Menino sem condição
Irmão de todos os nús
Tira os olhos do chão
Vem ver a luz

Menino do mal trajar
Um novo dia lá vem
Só quem souber cantar
Virá também

Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção

Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar

Se até da gosto cantar
Se toda a terra sorri
Quem te não há-de amar
Menino a ti

Se não é fúria a razão
Se toda a gente quiser
Um dia hás-de aprender
Haja o que houver

Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção

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A minha playlist de hoje é só Mariza. Esta fantástica interpretação do poema do Zeca Afonso arrepia. É brutal.

23 novembro 2006

Mesmo bom!

Sabe bem falar com amigos com quem não se fala há muito tempo. Prova, se preciso fosse, que quem é nosso, é nosso sempre, independentemente da distância física e do tempo que corre entre cada contacto. Porque os afectos são intemporais e muitas vezes, imensuráveis. E porque gostar de alguém, é acima de tudo, respeitar ritmos.

22 novembro 2006

...

You touched my heart you touched my soul.
You changed my life and all my goals.
And love is blind and that I knew when,
My heart was blinded by you.
I've kissed your lips and held your head.
Shared your dreams and shared your bed.
I know you well, I know your smell.
I've been addicted to you.

_______

James Blunt

memórias musicais

Há canções que ficam ligadas a eventos especiais ou a fases da nossa vida. Estava a ouvir uma pasta de mp3 que não ouvia há muito tempo quando dei com algumas pérolas que me fizeram recuar no tempo e viajar nas minhas memórias.
Num Verão muito divertido, fui com uma amiga a Gaia, para ver um concerto dos Lullabye. Acabámos por ver as duas últimas canções apenas, porque entretanto, fomos jantar com outro amigo e a conversa estava tão boa que perdemos a noção do tempo. Como todas as diabinhas têm sorte, a música do encore foi Making me Better, o grande sucesso da banda, na época: marvellous, precious, really fine, fascinating / wonderful, better, beautiful, lovely, it's flowing / stronger, i can see that i've become / wiser, cant't forget the help i've won / (...) / no one can stop me, i'm invincible, unbeatable. Inesquecível!
Num Verão ainda mais recuado, conheci uma pessoa fascinante. Perdi-me. Talvez porque essa fosse das canções mais tocadas na altura, ou porque a letra tivesse mesmo a ver com a pessoa, associei Come Undone, do Robbie Williams à criatura. Não me lembro quando foi que ouvi a canção pela última vez. Até hoje. If I ever hurt you your revenge will be so sweet / Because I'm scum / (...) / If I´d stop lying I'd just disappoint you / I come undone.
Last but not least - Música de dança! OMC, How bizzare. Sardinha Biba, Braga, 1998 ou 1999, pista mais ou menos cheia num sábado à noite. Dançar quase até ao amanhecer. Grandes noites :D


21 novembro 2006

Não negues à partida...

... uma ciência que desconheces! Esta era a frase de promoção de uma dessas videntes de vão-de-escada que, há uns anos, anunciava os seus serviços na televisão. Eu não tenho nada de vidente, nem sou lá muito dada a crendices desse género mas, aqui há dias, andava meio tristonha e recomendaram-me uma mezinha para as más vibes. como no creo en brujas, pero... decidi experimentar. verdade seja dita, fiz um bocadinho de batota :) não cumpri todos os passos da mezinha, mas até acho que resultou! não seria eu, se não a partilhasse com os fiéis do Estrelas, enriquecida com os meus comentários :)

Receita
Encha um copo de água até à beirinha. [teoricamente, a água vai absorver as más energias]
Acenda uma ou mais velas, com fósforos. [não sei por que é que isto dos fósforos é importante, mas quem me deu a receita insistiu imenso neste ponto!]
Pode acender um incenso. [não há «sabores» recomendados na mezinha, mas eu gosto particularmente de incensos de sândalo]
Deixe a(s) vela(s) arder até ao fim.
Deite a água «contaminada» de más vibes na sanita e puxe o autoclismo duas vezes. [aqui foi onde eu fiz batota, porque me pareceu parvoíce desperdiçar um copo de água perfeitamente usável. não o bebi, não fossem as vibes voltar, mas deitei-o numa planta que me pareceu sedenta!]

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Se alguém decidir experimentar a mezinha e estiver para aí virado, trate de partilhar experiências na secção de comentários :)

20 novembro 2006

Memorabilia

Memórias, momentos, passados.
Fotografias, fitas, flores secas.
Frasco, garrafas, rótulos.
Emoções. Sensações.
Meias, anel, colar, lingerie.
Relíquias. Naftalina do tempo.
Programas de teatro. Bilhetes de cinema.
Filme manhoso. Filmes terapêuticos.
As tuas músicas. As minhas.
Concertos memoráveis.
Cartas. Postais. Mails. Logs.
Notinhas marginais em páginas soltas.
Anotações numa agenda.
Os livros. Um diário. Papelinhos.
Encaixotados. Arrumados.
Passados cobertos de pó.
Fechados em compartimentos estanques.

Paris, je t'aime

Mais cinema! Vi Paris je t'aime na sexta-feira. É um filme incomum, composto por várias sequências dirigidas por realizadores diferentes. Isto resulta algo confuso, mas o saldo final é bastante positivo. São visões muito diferentes das relações humanas, na cidade do amor romântico. Algumas das sequências são cómicas, outras meio surreais, outras ainda, comoventes. Destaco três delas: Faubourg Saint-Denis, de Tom Tykwer, Bastille, de Isabel Coixet e Place des Fêtes, de Oliver Schmitz.
Na primeira, somos guiados pela retrospectiva do namoro de dois jovens - ele é francês, estudante e cego, ela é uma aspirante a actriz, americana. Conheceram-se por acaso, viveram um idílio romântico que se foi transformando em normalidade. Ela é intensa, ele é regular. Ele segura-a, ela agita-o. Todas as paixões viram rotina? Aparentemente...
A segunda sequência é avassaladora - a renúncia é sempre assim. Quando ele se preparava para a abandonar, ela revela-lhe que vai morrer. E ele desiste de si e fica, para cuidar dela, acabando por voltar a amá-la, talvez até com com maior intensidade, porque a perda iminente aguça os sentidos.
A última sequência é aparentemente banal - ele foi esfaqueado, ela é socorrista e presta-lhe cuidados. Ela percebe, então, que ele é um dos anónimos com quem já cruzou, que ele reparou nela e que ele até é interessante. A dor dos outros é sempre chocante - a dor física ou a dor emocional. Ele canta. Ela recorda-se da canção. E um sorriso trocado inocentemente ganha uma dimensão nova perante a tragédia da violência sem sentido.
Tenho vontade de ver este filme novamente, de caderninho em punho :) Quanto mais revejo as sequências na minha mente, mais tenho a certeza que me escaparam muitos pormenores dignos de nota.

Out of Africa

Continuam a passar bons filmes! Ontem à noite vi um dos meus filmes preferidos de sempre: Out of Africa, de Sydney Pollack. Já vi este filme tantas vezes que sei de cor pedaços do texto, da sequência das cenas e da banda sonora, mas nem isso lhe tira o encanto. Ainda me emociono sempre nas mesmas partes: o primeiro vôo, a separação de Karen e Denys, o incêndio, o pedido de terras, o poema no funeral e a despedida entre Karen e Farah Aden.
Adoro a fotografia, o sotaque irrepreensível e o cabelo revolto da Meryl Streep, o charme esmagador do Robert Redford, o ar distante-terno-interessado de Malick Bowens. Andei anos atrás da fabulosa banda sonora. Uma das minhas citações preferidas saiu deste filme: Denys pergunta a Karen se pode trazer as suas coisas para casa dela. É a sua forma de lhe dizer que quer viver com ela. Diz-lho durante uma caminhada, a olhar em em frente, quase como se estivesse a falar do tempo. Ela responde-lhe when the gods want to punish you, they answer your prayers, pára repentinamente e abraça-o. Há coisas que não se pedem, mas que sabem que nem ginjas quando acontecem.
Outra das coisas que me encanta neste filme é a conjugação entre a independência das personagens e o amor entre elas. Construir alguma coisa a dois é sempre incrivelmente complicado, mais ainda quando se têm tão presentes os conceitos de liberdade e de espaço individual. A questão nunca é saber se se gosta ou não de determinada pessoa - é mais de saber até que ponto se é capaz de abdicar de rituais, hábitos, ritmos que se têm por certos, em prol de uma construção binária, dependente de outra pessoa... porque gostar é só o princípio.

15 novembro 2006

Bilhetinho de amor

Um amigo meu está a frequentar um curso de escrita - o primeiro trabalho de casa que lhe calhou foi escrever um bilhetinho de amor, destinado a alguém que conhecesse, mas não muito bem. Enviou-me um exemplar de que gostei particularmente e que transcrevo aqui, com a devida permissão :)
Este bilhete devia estar todo branco. Se o mundo fosse perfeito, esse papel nem devia ter existido. No meu mundo perfeito, tu nem precisas que eu te diga o quanto eu te amo. Tu sentes, e me retornas.

Menos é mais :)

Less is more, canta a Joss Stone a propósito de um namorado sufocante. bom, eu não tenho um namorado sufocante, mas tinha listas de contactos enormes - decidi fazer uma limpeza nos contactos de correio electrónico e do messenger e no números da minha agenda do telemóvel.

os resultados são muito animadores :)
  • em 10 ou 12 minutos de caminhada entre o meu trabalho e o Campo Grande, ganhei 30 e tal espaços de memória no telemóvel - prova evidente de que fazer duas ou três coisas ao mesmo tempo tem as suas vantagens. aposto que, se estivesse apenas concentrada na eliminação de números profundamente inúteis, teria eliminado muito menos, a pensar na utilidade futura deste ou daquele número que não marco há mais de duas eternidades.
  • a limpeza do correio electrónico também foi profícua: livrei-me de pessoas que nem sabia quem eram e que estavam na minha agenda por um daqueles defaults parvos do Outlook Express, que presume que todo e qualquer gato pingado que me escreve é meu amigo.
  • no messenger fiz uma coisa mais rebuscada: criei um grupo novo para onde arrastei todas as pessoas com quem nunca falo. estão em período probatório. se não falarmos até ao final do ano... adeus bolachinhas!
agora devia aproveitar o embalo e... arrumar o meu quarto. mais do que isso, deitar tralha fora. tenho ideia de ter para lá papelada a mais, que não me serve de nada mas atulha e que tenho pena de deitar fora, nem que seja porque paguei por ela. e bom mesmo era... pintar, mudar a disposição dos móveis, arranjar espaço para meter todos os meus livros, pendurar coisas novas pelas paredes! fazer uma espécie de extreme makeover ao meu ninho :)

13 novembro 2006

Fonte da Telha

Praia cheia de gente. Família.
Som de mar. Cheiro de mar.
Bola. Encher a bola. Puxar pelo fôlego.
Baldes, pás, ancinhos, peneiras e forminhas.
Caranguejo, peixe, estrela do mar.
Conchas. Areia molhada. Bolos de areia.
Correr na areia. Areia nos pés. Molhar os pés.
Água admiravelmente tépida.
Pôr-do-sol.
Tonalidades de rosa, laranja, roxo, azul, cinzento.
O meu domingo.

sem palavras... com muita saudade.

08 novembro 2006

fora do horário de expediente

Com o final do dia, abre-se a possibilidade de cantar mais e mais alto e com menos probabilidades de ser ouvida durante estes devaneios :) Isto diverte-me e relaxa-me. A esta hora, também trabalho mais e mais concentrada. E desde que haja alguma coisa para petiscar... vive-se bem!
Pratos da tarde: barrinhas, kinder buenos, sopa, chá, banana e iogurte, musicalmente acompanhados por todos os álbuns dos The Gift, a tocar em modo aleatório. Sim, é verdade que me dói a garganta e que falar é um exercício moderadamente penoso. Estranhamente, cantar é muito fácil. E o chá tem poderes insofismáveis!
Temas preferidos do dia, listados em modo aleatório também: 11:33 ; 1977; Butterfly; Music; You know (esta dá-me vontade de saltar); a eterna Ok! do you want something simple?; Me, Myself and I, pela qual me encantei muito recentemente:

You and I know
You and I try
You and I ran
Leaving old stories far behind

And it feels good
And it's so warm
Having those eyes
Playing with me, myself and I...

+ concertos

Algures num fim de semana de Outubro, ofereceram-me bilhetes para o concerto anual do Millenium BCP, no Pavilhão Atlântico: Sara Tavares, Clã e Rui Veloso. Fui curiosa para ver a Sara, que nunca tinha visto e interessada em ver o Rui, que adoro. Gostei das duas actuações: do ritmo doce dela, da experiência dele, das canções que cresceram comigo; gostei especialmente do momento em que o Rui convidou a Sara para o palco e com ela cantou Sodade. Muito bom.

Fui muitíssimo desligada da banda do meio do cartaz, mas.... Surpresa! Como não podia deixar de ser, os Clã foram a grande descoberta do concerto. Não fiquei a gostar muito mais deles, mas deixei-me envolver pela força e garra de palco da banda, pela energia contagiante da Manuela Azevedo, pela forma magistral como ela teve aquele auditório na mão.

Mas nisto o vento sopra doido
E o que foi do corpo num turbilhão
Sopra doido
E o que foi do corpo alado nas asas do turbilhão
Nisto ja nem de ar precisas
Só meras brisas,
Raras
Raras
Raras

ela é liiinda!

É linda, desprentenciosa, sensual, cheia de graça, alegre. Canta com o coração. Encanta. Cantou maioritariamente as canções do novo CD, M'bem di fora, mas houve tempo para revisitar temas de sucesso de trabalhos anteriores. Houve tempo para trazer ao palco Zeca di nha Reinalda, com quem já tinha cantado no Sal, onde a vi pela primeira vez. Cantámos com ela. Dançámos. Autografou o meu CD!
Foi ontem, no concerto da Lura, no Tivoli.

06 novembro 2006

os meus filmes

Nos últimos tempos, tenho cruzado com alguns dos filmes que me marcaram, na programação de vários canais de televisão.

Sábado, à hora a que estava a pensar aterrar, descobri que ia passar o Fight Club na televisão. Sei por que motivo gostei tanto do filme, na época em que o vi no cinema, e confirmei que a magia ainda lá estava. A supresa do homem anónimo comum, aparentemente normal, que precisa de um escape da sua vidinha corriqueira e que tem em si um potencial destrutivo inimaginável. Psicoses. Doenças. Solidão. Fugas. Somos criaturas assustadoras, é o que é.

E por criaturas assustadoras: não fui capaz de rever o 8mm - vi um par de cenas e chegou. Foi uma martelada, quando o vi no cinema. Perturbou-me muito. Detalhes do filme ficaram-me marcados até hoje. Os horrores que se escondem nos recônditos das pessoas que se cruzam connosco nos passeios, no metro, nos corredores dos centros comerciais. E a tentativa de redenção, que é em si um horror... violência que gera violência.

Vi o meio de La Reine Margot. O meu primeiro filme francês. Drama, sangue, política e intriga. Trajes de época. Uma paixão. Morte. História romanceada. Boas cores. Lindíssima Isabelle Adjani.

Cacei um pedaço do Leaving Las Vegas. Filme brutal. Potencial destruidor de cada ser humano, mais uma vez. O mal que conseguimos infligir-nos, conscientemente, como se não tivéssemos alternativa ou escapatória. E o Amor. o Amor desesperado, desesperante, incondicional e feito de aceitação, de reconhecimento do desespero alheio e de vontade de alterar o curso das coisas. O Amor-dádiva. O Amor brutal, o Amor apressado, o Amor sôfrego de aproveitar todos os momentos possíveis. Esplendoroso Amor. Triste Amor. Comovente Amor.

pimbalhices em estrangeiro



Ontem estava a ver o Gato Fedorento. a certa altura, aparece o David Fonseca, no seu ar mais profissional, a cantar uma canção que demorei a reconhecer... até ao refrão: after all there was another. para quem não reconheceu a pérola, é uma versão traduzida da mais famosa canção da Mónica Sintra. cantada com ar sério, por um cantor que nos habituámos a ver como sério, quase pareceu bom. isto prova (se ainda fosse preciso provar alguma coisa...) que nos fartamos de papar pimbalhices alegremente... desde que quem as debite tenha um ar insuspeito, ou cante em estrangeiro :D
E para que não pareça que falo de cor, até deixo um exemplozito, tirado da minha galeria de bandas preferidas da adolescência - Bon Jovi. a meu favor posso apenas dizer que eles eram melhores quando eram mais novinhos: mais hard rock, mas enérgicos e menos foleirotes. ou não. na volta, eu é que era menos exigente. este é o refrão de Thank you for loving me, que um dia traduzi em simultâneo, no autocarro:
Obrigado por me amares
Por seres os meus olhos
Quando não podia ver
Por separares os meus lábios
Quando não podia respirar
Obrigado por me amares
Obrigado por me amares
(sim, porque isto do amor é lindo e nunca é demais!!!)