30 junho 2006

Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

Alexandre O'Neill

_________

O poema, só por si, já é lindo! cantado pela Mariza.... é qualquer coisa :)

26 junho 2006

12 dias

Em doze dias acontece muita coisa! Não há nada como os dias e noites quentes para estimular o convívio :) isso e um horário maravilha, que não me obriga a acordar de manhã cedo! nos últimos dias, foi um corropio de programas divertidos - jantaradas, concerto, compras, mornas ao vivo, passeios...

Jantaradas: há uma tasca da qual gosto particularmente, em Alfama. é mesmo tasca, tem um ar duvidoso, mas tem comida africana aceitável (depende um bocado da inspiração de quem cozinha naquele dia!), sangria, uma mousse de chocolate fantástica e mornas ao vivo, à sexta-feira e ao sábado. outro ponto a favor - a proximidade do Castelo... nada como uma subidinha para desmoer :)
Outra coisa de que gosto é sushi e sashimi, apesar de comê-los muito menos vezes do que gostaria - nada como uma jantarada no japonês, para pôr o paladar em dia!

Compras: larguem-me numa Promod que eu faço a festa sozinha! fui fazer de consultora de uma amiga e acabei com umas pecitas a mais no meu roupeiro :) há livros novos, como não podia deixar de ser - depois de ter lido o Interview e de andar tentada por meses, parei de fazer finca-pé aos vampiros e comprei-me as Vampire Chronicles, da Anne Rice. resta saber quando é que vou ler isto :) neste momento, estou a ler o sexto livro do Harry Potter e a seguir, desconfio que vou pegar n'As mãos dos Pretos, uma antologia de contos de autores africanos de língua portuguesa, que anda lá por casa há tempos, ou no Brooklyn Folies, do mágico Paul Auster.

Fui ao Oceanário de Lisboa, com a minha irmã pequena - foi uma aventura :) ela nunca tinha encaixado que os peixes vivem dentro de água e fez uma festa imensa! e ver o mundo com o entusiasmo de uma criança tem um encanto diferente.

Concerto - Donna Maria, no Bar Templários, em Lisboa. Incrível!!! A Marisa Pinto, vocalista da banda, é mais pequena do que eu, mas tem uma voz e uma presença que enchem uma sala. tocaram praticamente o CD inteiro, sem pretensões e com uma alegria contagiante, numa sala cheia de gente, que cantava em coro com a banda. Ainda na vertente musical, vou finalmente ver a Mariza ao Casino de Lisboa neste fim de semana, e procuro companhia para ver Gotan Project, na próxima semana, no Coliseu dos Recreios. quem se anima? :)

estamos a meio dos Santos Populares, e ofereceram-me hoje um manjerico! o cheiro espalha-se alegremente pelo meu escritório :) não fui aos santos, para grande pena minha... a bem da verdade, prefiro o S. João ao Sto. António, nem que seja pelos martelinhos!

as minhas últimas duas entradas são menos divertidas.

a morte saiu à rua: sexta-feira, 23 de Junho, foi assassinado um jornalista/repórter fotográfico que admirava muito. Chama-se Martin Adler, foi colaborador da Grande Reportagem durante vários anos, fotografou e escreveu sobre alguns dos conflitos mais vergonhosos dos nossos tempos. estava a cobrir as manifestações a propósito do último arranjinho político entre o governo e as milícias em Mogadíscio, na Somália. a sua morte eleva para 26 o número de jornalistas mortos só neste ano, enquanto trabalhavam. foi alvejado pelas costas, a curta distância... a imprensa internacional afirma que não se tratou de um acidente. tinha 47 anos.

ontem tive um encontro imediato com a parte da frente de um automóvel - fui atropelada numa passadeira de peões, pertíssimo da minha casa. felizmente, não tenho mais do que algumas nódoas negras e uns arranhões. apanhei um susto e tanto, mas estou inteira... e até os meus bolinhos (eu vinha da pastelaria!) se salvaram :)

em 12 dias acontece mesmo muita coisa.

14 junho 2006

El Lado Oscuro

Segunda-feira, fim de tarde: vamos tapear, beber sangria, pôr a conversa em dia, ver gente gira! e para tornar o programinha perfeito, El Lado Oscuro, dos Jarabe de Palo :)

Puede que hayas
nacido en la cara
buena del mundo.
Yo nací en la cara mala,
llevo la marca
del Lado Oscuro

No me sonrojo
si te digo que te quiero,
y que me dejes o te deje,
eso ya no me da miedo.
Tú habías sido
sin dudarlo la más bella
de entre todas las estrellas
que yo ví en el firmamento.

Cómo ganarse el cielo,
cuando uno ama
con toda el alma.
Y es que el cariño
que te tengo
no se paga con dinero.
Cómo decirte
que sin ti muero.

12 junho 2006

Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos seus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus braços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

_____________

este é um dos meus sonetos preferidos da Florbela. sei uns quantos de cor, desde os 18-19 anos, altura em que trazia o livro sempre comigo. a Florbela soube escrever sobre o amor como poucos poetas: de uma forma teatral e exagerada - porque as emoções fortes raramente têm freios e não se «encaixotam» dentro do limites do parecer bem -, mas sensual e emocionante. continua a ser uma das minhas leituras preferidas! reli há pouco todos os sonetos da série He hum não querer mais que bem querer - dez sonetos sobre a exaltação do amor e o desencanto da perda. recomendo vivamente :)

Oooh Tita!!!

Tita é a irmã de uma das minhas amigas da escola secundária, mais velha que nós uns 6 ou 7 anos. sempre que uma de nós falava de rapazes, ela tinha uma pergunta obrigatória: nós diziamos «ele é lindo, tem uns olhos (ou pernas, ou rabo ou qualquer outra parte corporal) lindos!» e ela disparava logo «de que é que vocês falam?», ao que nós respondíamos em coro «Oooh Tita, o que é que isso interessa?!».
na altura, ter assunto para falar era o que menos importava...! alguns anos depois, percebo imensamente bem a pergunta. vamos combinar :) mais coisa menos coisa, a parte física resume-se em meia dúzia de linhas, por muita imaginação que se tenha. ok, eu aceito, pode resumir-se em duas ou três páginas...! mas depois, o que é que se faz com a pessoa? conversa-se, que remédio! e aqui voltamos à pergunta da Tita - «de que é que vocês falam?»
se ele só fala de carros, futebol, saídas com os amigos ou problemas do trabalho, e se vocês querem falar daquele vestido lindo que viram numa montra à hora de almoço, como é que se entendem? se ele não gosta de literatura, se só vê filmes de acção e se houve música que não lembra ao diabo... o entendimento é difícil. mas não é impossível!
é muito mais fácil conversar com pessoas que partilham os nossos interesses ou que têm curiosidade em conhecer aquilo de que gostamos. mas mais importante do que isso é aceitar: uma grande parte de todas as relações é o respeito e a admiração pela outra parte. podemos não ter nada a ver com a outra pessoa, mas temos de ser capazes de aceitar a diferença e aprender a lidar com ela. de caminho, podemos sempre deixar que essa pessoa nos ensine alguma coisa.

09 junho 2006

muita loucura por nada

Muita loucura por nada é o título da peça que fui ver no último sábado - é uma adaptação de textos de diversas peças de William Shakespeare, feita por José Lobato, que também é o encenador e protagonista. mesmo deixando de lado algumas opções de encenação algo discutíveis (o actor contracena com filme, sendo a única pessoa em palco durante todo o espectáculo), gostei muito do que vi - a montagem dos textos forma um todo coeso, o protagonista transmite uma paixão e uma loucura bastante credíveis e, em alguns momentos, comoventes. a peça é a primeira de três, todas com base em Shakespeare: a próxima é uma comédia. estamos lá :) no teatro D. Luiz Filipe, em Carnide.

http://muitaloucurapornada.blogspot.com

hip hop tuga

não sendo grande conhecedora de hip hop e menos ainda da sua versão tuga, há anos que adoro o refrão da música Dedicatória dos Mind da Gap. E para gáudio meu, ontem ao entrar no café do costume, dei com a transmissão em directo da actuação da banda no SBSR... a cantar, justamente a música de que gosto :)

O que eu precisava, era mesmo,
alguém assim como tu.
Eras o estilo certo, para mim,
Quero ficar contigo até ao fim.
Nunca tive ninguém, como tu,
Mas sempre te procurei,
Agora que te encontrei, que te ouvi,
Quero ficar contigo até ao fim.

ainda dizem que não há coincidências :)

08 junho 2006

ah, pois é...!

tomar uma decisão é fácil ou relativamente fácil, dependendo do assunto e do alcance da dita. o que é mesmo difícil é manter a resolução de pedra e cal e não cair em tentações.

02 junho 2006

Donna Maria 2

Lado a lado

Somos dois caminhos paralelos
Vamos pela vida lado a lado
Doidos que nós somos
Loucos que nós fomos
Nem sei qual é de nós mais desgraçado

Lado a lado meu amor mas tão longe
Como é grande a distância entre nós
O que foi que se passou entre nós dois que nos separou
Porque foi que os meus ideais morreram assim dentro de mim

Ombro a ombro tanta vez mas tão longe
Indiferença entre nós quem diria
Custa a crer que tanto amor tão profundo amor tenha acabado
E nós ambos sem amor lado a lado

Fomos no passado um só destino
Somos um amor desencontrado
Doidos que nós somos
Loucos que nós fomos
Não sei qual é de nós mais desgraçado