12 junho 2006

Florbela Espanca

Se tu viesses ver-me

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos seus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus braços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

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este é um dos meus sonetos preferidos da Florbela. sei uns quantos de cor, desde os 18-19 anos, altura em que trazia o livro sempre comigo. a Florbela soube escrever sobre o amor como poucos poetas: de uma forma teatral e exagerada - porque as emoções fortes raramente têm freios e não se «encaixotam» dentro do limites do parecer bem -, mas sensual e emocionante. continua a ser uma das minhas leituras preferidas! reli há pouco todos os sonetos da série He hum não querer mais que bem querer - dez sonetos sobre a exaltação do amor e o desencanto da perda. recomendo vivamente :)

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