26 fevereiro 2008
Armadilhas
A vida é uma complicação. Ou nós complicamo-la, nem sei :)
Ontem lembrei-me disto a propósito de uma passagem da série 6 Graus, que passa na TV2. Anya, que andava com Steven, recebe a visita do seu ex. Cumpre esclarecer que o ex só está nesse papel porque decidiu ir para outra cidade sozinho, terminando a relação com Anya. Regressa 2 anos depois, por motivos profissionais, e decide visitá-la, sob o pretexto de uma visita amigável para conversar. E Anya? Decide que deve levar aquele reencontro às últimas consequências, porque considera que ficou muito por fazer/dizer/resolver nessa relação e deixa Steven. Apeteceu-me gritar-lhe «Atenção, pá, estás a cair numa armadilha!!!».
Quando uma relação intensa acaba, e sobretudo se não foi por iniciativa nossa, é comum acharmos que poderíamos emendar o passado, consertar as nossas memórias e sarar as nossas cicatrizes, se tivéssemos uma oportunidade para fazê-lo com a pessoa que está ligada a esses acontecimentos penosos. O que nem sempre queremos ou gostamos de encarar é o seguinte: o passado é justamente isso, PASSADO. Não se conserta no presente ou no futuro. Podemos tentar dar mais um chance, mas isso dificilmente resulta, sobretudo porque é complicado gerir as mazelas que ficaram no final. Qualquer take 2 de uma relação deve ser feito de olhos abertos para as menoridades do outro, para as nossas menoridades, para as lições do passado em comum e para todo o património de desencontros e de conhecimento adquiridos entretanto. Funciona? Nem sempre, nem para todos. Não há regras, depende sempre dos intervenientes.
Outra potencial armadilha é ficar amiga/o dessa pessoa que saiu da nossa vida com muito dano. O princípio-base é acreditar que se a pessoa foi importante não pode sair da nossa vida para sempre. É simplista? Sim. É errado? Talvez não seja, mas é preciso muito jogo. Se pretendemos enterrar o passado, mantendo pessoas antigas na nossa vida noutros papéis, é essencial saber enterrá-lo de facto e rolar-lhe um penedo por cima. Passado o período mais doloroso do pós-separação, pode permanecer uma certa cumplicidade entre algumas pessoas, decorrente do tempo que durou a relação. Também há um certo voyeurismo (isso de sermos só bons sentimentos é uma treta!). Queremos saber se a pessoa está bem, queremos comparar o estado de cada um, mas evitamos ser demasiado descritivos no que respeita a relações presentes, seja para não melindrar a outra parte, seja por uma questão de pudor.
Se consideramos que a pessoa em questão deve permanecer na nossa vida, não vale encontrar pretextos para falar ou reviver o que passou, trocando memórias douradas das partes boas ou acusações sobre partes más. Nunca somos imparciais, quer na evocação dos eventos, quer na avaliação da actuação dos intervenientes - olhar para trás é sempre um exercício crítico e/ou emocional. Se soubéssemos, na altura, o que sabemos actualmente não teríamos cometido determinados erros, mas teríamos cometido outros, certamente. Na maior parte dos casos, não foram os erros que nos afastaram de determinadas pessoas: foi a incapacidade de lidar com os seus efeitos. E ter isso presente é fundamental.
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