31 janeiro 2006

Materialista

Estava eu alegremente a editar a minha wishlist no hi5 quando me bateu um pensamento - mas para que é que eu quero estas coisas? no caso, eram livros da Anne Rice, eu adoro ler e tenho um fraquinho por bruxas e vampiros, mas no fim de contas, tenho livros de sobra e espaço a menos para os arrumar... quero mesmo ter mais livros?
Questão seguinte: serei melhor ou mais feliz com mais livros? terei menos espaço no meu quarto, lerei um monte de histórias novas, satisfarei o soft spot por bruxas e vampiros... mas estarei mais feliz? provavelmente não. um lugar comum é que a felicidade não depende de bens materiais nem pode ser comprada... por muito que qualquer bem adicional nos deixe muito contentinhos.

O que é que nos faz correr? o que nos move? pergunto-me isto muitas vezes. e quando dou por mim a pensar demasiado, adio - é mais fácil aceitar que não se pensa a fundo nas coisas por falta de tempo, e não por falta de conclusões possíveis...
A verdade é que toda a gente é movida por um objectivo qualquer e eu, aos 28 anos, ando meio à toa. queria um emprego estável, consegui-o. queria viajar e vou viajar. vai não volta, quero roupa, um CD, um livro, e compro-os sem pensar muito. porém, não tenho um objectivo a longo prazo - algo que me faça olhar em frente e dizer: «estou a lutar para atingir aquela meta».
Li há pouco tempo, num blog ou coisa parecida, que a minha geração foi treinada/condicionada para trabalhar por objectivos e atingir o sucesso. Somos criaturas dependentes de objectivos tangíveis? maybe... eu, por exemplo, sentia que tinha objectivos quando andava a estudar, e esforçava-me para fazer as cadeiras ou fazer um determinado trabalho. É mais fácil ter objectivos quando conquistá-los depende apenas de nós? Por essa ordem de ideias, serei mais feliz se me empenhar em ser milionária antes dos 40, comprar uma casa, ou tirar a carta e comprar um carro :)

Também é um lugar comum que tendemos a concentrar-nos em objectivos individuais porque temos dificuldade em trabalhar em parceria. eu detesto trabalhos de grupo, compras a meias, lideranças bicéfalas e outros quejandos. no que me diz respeito, quanto menos depender de vontades alheias, melhor. Isto tem obviamente, implicações no que diz respeito a relacionamentos - provavelmente cedo menos do que poderia ceder, e quando o faço é de forma renitente... e ainda tem uma agravante - quanto mais passa o tempo, mais independente me torno e menos capaz de ceder me sinto. Ou seja: pelos vistos, e após um longo relacionamento recentemente terminado, estou condenada a ser solteirona, perspectiva que não me encanta, mas não me aterroriza de facto.

Ainda que olhe para o lado e veja uma grande parte dos meus pares «acasalados e instalados», não me sinto compelida a despachar a tarefa quanto antes. Até porque a sensação geral é que não se fica de facto mais feliz por acasalar e instalar - fica-se mais normal, mais dentro daquilo que esperam de nós a partir de uma certa idade: uma espécie de passo lógico a seguir ao curso e ao emprego. mas a felicidade não deriva daí. portanto, temos um problema que parece uma pescadinha de rabo na boca - não somos lá muito felizes sozinhos, não somos necessariamente mais felizes aos pares, nem somos mais felizes com mais objectos; compramos objectos porque são a medida do nosso sucesso material, estabelecemos metas materiais porque são mais fáceis de controlar e de atingir, fechamo-nos dentro de nós mesmos porque não queremos ceder, e concluímos que, não sendo ilhas, não somos felizes sozinhos. e no fim das contas, optamos por não pensar muito nisto, porque quanto mais tempo gastamos a pensar, menos tempo gastamos a viver de facto.

E como eu descobri há algum tempo, a felicidade é um sentimento relativo, que desponta quando menos se espera e pelos motivos mais inusitados - não consigo medir quão feliz fico quando, de manhã, arranjo um lugar à janela no autocarro, do lado do sol e venho o caminho todo de óculos escuros, a cantarolar, perdida em pensamentos mais ou menos triviais, mas sei que os meus dias são melhores depois de um início assim. e adivinhem lá como começou o meu dia de hoje...? :)

2 comentários:

Anónimo disse...

Quando li o título do post pensei logo que vinha aí musica, um kizombinha para aquecer o ambiente (OBA, estamos mesmo a precisar!)
Mas não, pensamentos sérios sobre coisas que também costumo fugir a sete pés de pensar...

resposta à Rambo: "um dia de cada vez."

Calíope disse...

Eu também caí na armadilha da kisomba, mas logo me apercebi de que não. Este post tem pano para mangas... mil assuntos encadeados.
- A felicidade não pode ser comprada. Certo. Mas eu não tenho espírito de erimita despojado. Gosto de ter, por prazer e por conforto!
- (In)conscientemente todos temos um objectivo... o meu deve estar lá mesmo no fundinho, pois assim de repente não o estou a ver... mas a ideia de me tornar milionária antes dos 40 parece-me tentadora!
- Também sou individualista demais para permitir que alguém me ponha um freio.
- Eu seria mais normal se tivesse emigrado por causa de um homem qualquer, ter emigrado por vontade própria (o que não inclui amor, trabalho ou dinheiro) faz de mim uma anormal (GRAÇAS A DEUS!)
- Para mim a felicidade não é uma peça única, mas sim, um enorme mosaico composto por mil detalhes e de certeza que o sol é um deles!