O Público publica hoje uma peça sobre um dos menores condenados no chamado caso Gisberta. A história deste menor arrepia por motivos contraditórios: por um lado, pela incapacidade de valorizar a vida de outro ser humano, que acabou por morrer de uma forma absolutamente cruel; por outro, porque nenhuma acção vem do nada e pouco mais que nada são os valores que a família, a escola, a sociedade e a instituição onde esteve internado conseguiram transmitir-lhe. O valor da vida humana aprende-se. O respeito pelas diferenças também. Mas é preciso alguém que ensine.
Sei que este texto parece contradizer
um outro que escrevi no início deste ano, sobre o mesmo caso. Continuo a achar que o que aconteceu a Gisberta é indescritível do ponto de vista da crueldade e da incapacidade de aceitar as diferenças. Continuo a achar que quem comete crimes deve ser julgado e condenado, e que os crimes contra a vida deveriam ter penas pesadas, porque tirar uma vida não pode ser encarado de ânimo leve.
Contudo, não posso deixar de sentir uma enorme piedade por estes rapazes, sem estrutura, sem apoio quase nenhum e sem quem lhes ensinasse valores. Por outro lado, nada garante que a pena que lhe foi aplicada faça o que seria essencial: educá-lo e prepará-lo para ser uma pessoa à séria. Sem isso, a pena de pouco lhe servirá. Se eu sou o que sou, devo-o aos meus pais e a todos os adultos que, no papel de formadores, tive a sorte de encontrar ao longo da vida. Estes rapazes, se calhar, não tiveram a mesma sorte.