31 julho 2006

Adeus português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti



Alexandre O'Neill

28 julho 2006

out and about tonight

as frase é de uma música dos Suede, que eu publiquei em tempos aqui no estrelas. ao fim de uma semana stressante, com este tempo fantástico, o que apetece é sair, dançar, beber uns copos, ver estrelas... apanhar ar nas trombas, como diz um amigo meu :) baza nessa?

20 julho 2006

os posts fáceis :)

esqueço-me sempre que gosto imenso da Mafalda Veiga... até ao momento em que a ouço :) calhou ouvir umas quantas músicas hoje - obrigada, FJ! - e dei por mim a trautear. uma leitora deste blog diz eu tenho um bocado a mania dos posts «fáceis» com letras músicas ou poemas. essa é uma mania que quero manter :) assim sendo, ficam dois poemas que eu adoro, cantados pela Mafalda Veiga.

Por outras palavras
Ninguém disse que os dias eram nossos
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que podia arrancar sempre
mais uma madrugada

Ninguém disse que o riso nos pertence
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que podia arrancar sempre
mais uma gargalhada

E deixar-me devorar pelos sentidos
E rasgar-me do mais fundo que há em mim
Emaranhar-me no mundo
e morrer por ser preciso
Nunca por chegar ao fim

Ninguém disse que os dias eram nossos
Ninguém prometeu nada
Fui eu que julguei que sabia arrancar sempre
mais uma gargalhada

E deixar-me devorar pelos sentidos
E rasgar-me do mais fundo que há em mim
Emaranhar-me no mundo
e morrer por ser preciso
Nunca por chegar ao fim


Cada lugar teu
Sei de cor cada lugar teu
atado em mim, a cada lugar meu
tento entender o rumo que a vida nos faz tomar
tento esquecer a mágoa
guardar só o que é bom de guardar

Pensa em mim protege o que eu te dou
Eu penso em ti e dou-te o que de melhor eu sou
sem ter defesas que me façam falhar
nesse lugar mais dentro
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Fica em mim que hoje o tempo dói
como se arrancassem tudo o que já foi
e até o que virá e até o que eu sonhei
diz-me que vais guardar e abraçar
tudo o que eu te dei

Mesmo que a vida mude os nossos sentidos
e o mundo nos leve pra longe de nós
e que um dia o tempo pareça perdido
e tudo se desfaça num gesto só

Eu vou guardar cada lugar teu
ancorado em cada lugar meu
e hoje apenas isso me faz acreditar
que eu vou chegar contigo
onde só chega quem não tem medo de naufragar

Anacronismo

Calças pretas justas. t-shirt de rede sem mangas. tatuagem grande no peito, esverdeada pelo tempo - aposto que era uma daquelas coisas feias, a dizer Angola 61 ou amor de mãe... ou então, podia ser uma caveira ou coisa parecida, à metaleiro de antigamente. colete de cabedal preto. boné de cabedal preto. um walkman-leitor-de-cassetes grande e antigo. headphones. ténis e meias com desenhos. cabelo à Futre. saiu do Metro na minha estação e meteu a mão na saída de moedas da máquina de venda de chocolates e pastilhas, a ver se havia por lá uma moeda esquecida. parecia saído de um videoclip dos Scorpions, dos anos 80.

19 julho 2006

no pacote de açúcar

Fui tomar café com um amigo, ao fim da tarde. o meu pacote de açúcar trazia a seguinte pérola de sabedoria:

Portugal tem mais de 40.000 restaurantes, 5.000 bares e discotecas e cerca de 10 milhões de habitantes, dos quais 1/3 são solteiros. Não fique aí a dormir.

não vou dizer que tudo o que vem à rede é peixe :) mas com tanto peixe no mar... a ideia de pescar entranha-se em nós.

Coitadinhos dos caracóis!


A D-mail é um achado :) andava eu à procura de informações sobre caracóis, quando descubro esta pérola de equipamento de jardim. pelos vistos, os deliciosos gastrópodes apreciam a bela da bjeca!

Pequenos Prazeres

  • o cheiro da chuva na terra quente do Verão;
  • olhar para as nuvens;
  • raios de sol a despontar atrás de nuvens gordas;
  • as cores do poente;
  • óculos escuros, leitor de MP3 e um livro;
  • ouvir um CD que não ouvia há muito tempo e pensar que ainda sei as letras :)
  • mimos dos amigos (um amigo ligou-me há dias do concerto de uma banda que adoro, para eu ouvir uma música inteirinha... Obrigada!);
  • dançar, sem querer saber se danço decentemente ou não;
  • esplanada e caracóis!

18 julho 2006

Maravilla


para início de conversa, o video não é nenhuma oitava maravilha... mas esta música é qualquer coisa de muito dançável. e ultimamente, o que eu mais quero é dançar, mesmo! portanto, para quem gosta de kisomba, zouk ou lá o que queiram chamar a este ritmo: enjoy! fechem os olhos, se for preciso :P para quem não conhece e/ou acha que não gosta do género... fechem MESMO os olhos e abram muito os ouvidos; relaxem os pés, deixe-nos mexer à vontade. vai ser lindo!

O meu vampiro :)

Depois da deliciosa maratona de re-leitura do Harry Potter, comecei a ler The Vampire Lestat, o segundo livro das «Vampire Chronicles», da Anne Rice. ando aos pulinhos! se há coisa que a Sra. Rice conseguiu fazer foi humanizar os vampiros... as suas personagens não são só criaturas sanguinárias, que metem medo e andam por aí a beber o sangue dos incautos. são, mais do que tudo, criaturas dotadas de personalidades complexas, emoções fortes, dúvidas, falhas de carácter. uma das melhores coisas deste livro é o ritmo, muito mais forte do que o do Interview with the Vampire, que tinha partes muito moles :) além disso, por ser o segundo livro da série, permite fazer imensas relações entre personagens e histórias paralelas... e vamos combinar: o Lestat é incrivelmente mais divertido do que o Louis!

Simon Webbe - No Worries


eu adoro esta música. muito boa onda, mesmo :)
já começava a ser tempo de pôr uns videozitos no estrelas!

07 julho 2006

vou deixar que você se vá

Minhas mãos estão cansadas
Não tenho mais onde me agarrar
Tudo já se foi
Amizade carinho e amor
Não há mais por que lutar
Minhas mãos estão cansadas
Eu não vou mais lhe segurar
Vou deixar que você se vá

Não vou mais lhe segurar
Vou deixar que você se vá

Procure o seu caminho
Eu aprendi a andar sozinho
Isso foi há muito tempo atrás
Mas ainda sei como se faz
Minhas mãos estão cansadas
Não tenho mais onde me agarrar
Eu não vou mais lhe segurar
Vou deixar que você se vá

__________

descobri esta música hoje, porque um amigo veio almoçar comigo e trouxe-me coisas novas para ouvir. é de uma banda gaúcha chamada Nenhum de Nós.

o que não tem remédio, só tem uma solução - meia bola e força noutro sentido!

05 julho 2006

Mariza

No domingo, fui ver o espectáculo da Mariza no Auditório dos Oceanos. adorei! vim de lá encantada da vida - a Mariza é um portento :) é graciosa, humilde, cheia de sentido de humor e comunicativa. poucos artistas conversam tanto com o seu público durante uma actuação. se em CD a Mariza arrepia com o poder da sua voz e a emoção que parece pôr em cada canção, ao vivo comove profundamente. chorei umas poucas vezes, mas juro que tentei controlar-me :) é que a Mariza tem sido parte da banda sonora da minha vida recente e o processo de associação mental funciona mesmo quando não quero. cantou praticamente todas as minhas músicas preferidas... ficaram a faltar Oxalá, Terra d'Água e Há palavras que nos beijam, cujo poema publiquei recentemente.
tenho de destacar quatro momentos altos da noite: a interpretações de Barco Negro, de Nem às paredes confesso, e de Chuva (a minha música preferida de todas!), todas acompanhadas pela plateia em coro mais ou menos assumido; e o momento em que a Mariza deixou o microfone e cantou um fado vadio, como ainda se canta nas casa de fados por essa Lisboa fora. Grande Mariza!

Ele está lá!

O meu primeiro disco foi um single do José Cid, com essa música marcante que é Um Grande, Grande Amor. isso marca-nos para sempre, quer se queira, quer não! anos mais tarde, novo momento épico: o sr. José Cid aparece em pêlo numa revista dita cor-de-rosa, cobrindo as suas partes pudendas com discos de ouro e prata. não me lembro que motivo alegava para acto tão insano e isso agora nem vem ao caso! se juntarmos a isso a minha memória do Quarteto 1111, a cantar El Rei D. Sebastião num programa de televisão dos anos 80, consegue-se perceber que nutra por este artista um carinho muito especial :) o homem marca-nos indelevelmente!

Assim, não podia deixar de partilhar com os meus leitores este teste de crucial importância na consolidação da identidade pessoal de cada um :D