04 dezembro 2008

Do Diário de Marilú

Marilú ouviu dizer que o maior sinal de sanidade mental é questionar essa mesma sanidade, sem se deixar abater pelos desafios que a vida lhe coloca. Nos últimos tempos, dá por si a questionar a sua, com muito mais frequência do que é habitual. Imagina-se padecendo de Distúrbio de Personalidade Múltipla, em versão cómico-trágica, oscilando entre três ou quatro versões de si, qual delas a mais detestável. Todas têm franja recta. O cabelinho liso é opcional, a sombra azul clara, não.
  • Marilú A: 45 anos, dois divórcios em cima e um cãozinho irritante com ladrar agudo, profundamente cínica e desencantada, mas hilariantemente seca e directa nas análises e nos comentários que faz. Engraçada num registo inteligente e mordaz, com um piquinho de azedume, esta personalidade acaba por ter o condão de atrair mais pessoas para a sua beira, convencidas de terem encontrado uma fonte de boa disposição.

  • Marilú B: católica militante, acredita que Deus só coloca no cesto de cada um aquilo que ele consegue carregar, nem mais, nem menos. Entenda-se o cesto como uma metáfora dos ombros de cada um, onde repousam, com sorte, a cabeça e, dentro dela, alguma massa cinzenta. Esta persigna-se sempre que vê um casal aos beijos e diz muitas vezes «Ai Jesus!»,«Valha-nos Nossa Senhora!» e «Benza-te Deus, riquinho!». Gosta de igrejas, lingerie e meias de rede (sim, porque há uma maluca em cada beata!).

  • Marilú C: bipolar, optimista-pessimista, com o registo «pior do que está não fica; tudo o que vier a acontecer de agora em diante é bónus», sendo que o Inferno tem vários níveis, todos eles a descer, e esta personagem está a conhecê-los a palmo. Quando consegue, ri-se da desgraça, enfrentando cada pequeno drama como se de uma de lição de vida se tratasse. Tem dias em que mergulha alegremente na lama, de pazinha em punho, para chafurdar a granel, procurando motivos que justifiquem o céu caído na sua cabeça. Diz que a lama faz bem à pele.

  • Marilú D: ou «frankly my dear, i don't give a damn». Caia ao céu à vontade, não está nem aí. Com jeitinho, esta persona ainda consegue desviar-se para o canto no exacto momento em que o o céu desaba. É ponderada o suficiente para perceber que só pode resolver uma coisa e cada vez e agenda os problemas por ordem de prioridade, mesmo que isso signifique deixar coisas penduradas. Importante mesmo, é ter bolachas com chocolate para o lanche e dormir bem à noite.

No fundo, no fundo, o que Marilú precisa é de um corte de cabelo decente, que a traga de rajada para o séc. XXI. Ou de uns shots de vodka. Diz que ajuda.

1 comentário:

Calíope disse...

Que giro... estas marilus a mim soam-me a uma versão actualizada de Fernando Pessoa, mas digamos que numa roupagem mais... sopeira!!! :D
De resto espero pelos episódios com sumo e parece-me q Marilu se escreve sem acento gráfico.