23 fevereiro 2006

Eis-me

Eis-me
Tendo-me despido de todos os meus mantos
Tendo-me separado de adivinhos mágicos e deuses
Para ficar sozinha ante o silêncio
Ante o silêncio e o esplendor da tua face

Mas tu és de todos os ausentes o ausente
Nem o teu ombro me apoia nem a tua mão me toca
O meu coração desce as escadas do tempo em que não moras
E o teu encontro
São planícies e planícies de silêncio

Escura é a noite
Escura e transparente
Mas o teu rosto está para além do tempo opaco
E eu não habito os jardins do teu silêncio
Porque tu és de todos os ausentes o ausente

Sophia de Mello Breyner Andresen

22 fevereiro 2006

um bailado, um espectáculo, um livro, uma exposição

muito tempo sem escrever... Fevereiro tem sido um mês e tanto :) escrevo hoje para registar algumas coisas que marcaram muito positivamente o mês ou que o vão marcar.

Programa 1 - Lisboa Ballet Contemporâneo
a dança é um género artístico que aprecio muito, porque deliro com a coordenação motora alheia :) o que me encanta na dança contemporânea é a aparente facilidade com que os movimentos são executados, como se fossem espontâneos e não um produto de longas horas de ensaio.
a companhia é pequena, mas excelente e o espectáculo, que englobava 4 coreografias distintas ("Ela... Veronika!", de Gagik Ismailian; "Renacê" e "Castañeda", de Benvindo Fonseca; "Dreamland", de Barbara Griggi), superou as minhas expectativas. destaco sobretudo "Renacê": é uma coreografia para um bailarino apenas, inspirada na vida do coreógrafo e executada pelo próprio, numa performance comovente. encantou-me a sensualidade de Benvindo Fonseca, a emoção que ele conseguiu passar para o público, a graça dos seus movimentos, a capacidade de, sozinho, encher um palco daquela forma.

Depeche Mode
quase 13 anos depois, a banda voltou a Portugal para um concerto memorável :D três encores!!!
foram pouco mais de duas horas de êxtase ao som de algumas das melhores músicas - faltou-me Strangelove, que é provavelmente a minha canção preferida. num cenário que lembrava uma nave espacial, com os habituais efeitos visuais fantásticos, um Dave Gahan hipnotizante seduziu o Pavilhão Atlântico desde a primeira música.

Interview with the vampire
andava há anos para ler um livro da Anne Rice - é conhecido o meu fraquinho por vampiros e bruxas. ainda não acabei o Interview, mas estou rendida ao estilo da autora. e, numa altura em que não tenho tido muita vontade de ler, este livro devolveu-me aquele que é um dos meus maiores prazeres.

Frida Kahlo
soube desta exposição quando ela abriu em Londres, no Verão do ano passado - pensei que seria o pretexto ideal para perder o medo de voar :) entre muitas contigências, acabei por não planear a viagem e, entretanto, a exposição mudou-se para Santiago de Compostela, onde quase fui, nas férias de Natal... e de quase em quase, foi anunciada a sua vinda para Lisboa :) abre nesta sexta-feira, dia 24, no CCB!